Significado Zanshin

Gosto de um ditado japonês que diz: “Quando vencer a batalha, aperte seu capacete.” Nada mais poderia resumir Zanshin de uma forma tão simples quanto este ditado. O ato de permanecer alerta, mesmo quando seria óbvio relaxar e descansar.

Zanshin significa “mente contínua” e se refere a um estado de constante atenção. Na prática, em várias artes marciais o zanshin é caracterizado como a postura corporal antes e depois de executada uma técnica. É um termo muito utilizado no Karatê, Kyudô, Kendô e Aikidô. Por exemplo, no Karatê, se considera importantíssimo manter a postura firme por pelo menos alguns segundos após terminar um kata. No Kyudô (tiro com arco e flecha japonês), zanshin se mostra mantendo a postura após o tiro.. Não se deve atirar e relaxar.

No judô, zanshin não é um termo cotidiano, mas nem por isso é inexistente. Aprendemos que quando se joga um parceiro, não se pode soltar a sua manga, é preciso manter a postura por um tempo após a queda. Isso além de demonstrar cuidado com a integridade física do parceiro, também demonstra o controle sobre a execução. Durante um shiai, depois de um belo golpe, é prudente manter o alerta e continuar a luta mesmo depois de ouvir o árbitro dar Ippon, para não perder a oportunidade caso seja retirado o Ippon por um Waza-Ari. Isto é Zanshin.

Mesmo não sendo muito comentado, é importante trazermos cada vez mais este costume para nossos dojôs, para que se torne um hábito também fora dele. É importante que os alunos saibam porque manter a postura, porque não ficar conversando no treino enquanto outros alunos lutam, porque focar-se totalmente enquanto pratica uchikomis, etc.

A “mente contínua” é extremamente necessária em nosso dia a dia, no trabalho, nos estudos, nos cuidados com a casa, com os filhos. Uma mente que baixa a guarda e se dispersa facilmente dá brecha para a insegurança e a baixa produtividade. Ela também é necessária para que você esteja preparado em uma situação de risco real, contra um agressor. Todo budoka (artista marcial) precisa estar preparado para reagir rapidamente em sua própria defesa ou defesa de outro contra um agressor mal intencionado.

Enfim, zanshin é um termo que se funde e se confunde com Fudoshin e Mushin. Estes são outros estados mentais que juntos formam a “mente forte” do guerreiro samurai.

Fudoshin e Zanshin: Elementos Psicológicos do Budo

Fudoshin é um dos princípios do Budo e se refere a um estado mental que é impenetrável e imóvel. Neste caso, “imóvel” requer algumas explicações, pois é usado no contexto filosófico japonês e assim tem um sentido mais elevado do que se esperaria ao associar ao significado da palavra em outra língua.

Fudoshin não indica um estado mental inflexível, mas, sim, aponta para uma condição mental que não é facilmente transtornada por pensamentos internos ou por fatores externos. “Esta mente que permanece não agitada e calma é imperturbável, não apegada e livre… é a mente máxima do mestre, adquirida apenas através de rigoroso treinamento, e igualmente rigorosa investigação da mente e pelo forjar do espírito (seishin tanren, em japonês) através da confrontação e vitória sobre nossos próprios medos e fraquezas” Fudoshin é diretamente relacionado com outro conceito Japonês conhecido como zanshin, ou “mente continua”.

Citação do autor Oliveira San(https://oliveirasan.wordpress.com)

Os estados fudoshin e zanshin, são dois elementos muito importantes e geralmente são trabalhados nas artes marciais, fudoshin à grosso modo pode se dizer que é “vai encarar”, muitas vezes nos deparamos com certas situações que nos deixam um pouco desconfortáveis, quando por exemplo no mundo das artes marciais vamos conhecer um Sensei que vai aplicar um exame de graduação, lutar com alguém que você não conheça, ou simplesmente falar em público, pela psicologia isso é chamado de “insegurança, timidez, etc.,” mas o que vemos falar aqui é o contrário disso, nesse caso a auto-confiança, segurança (fudoshin), quando nos deparamos com um adversário que desconhecemos suas técnicas em luta, ficamos um pouco intimidados com ele, porque não sabemos o modo de luta, se ele é mais ofensivo, mais malicioso em relação a golpes no rosto, golpes proibidos, se é forte ou veloz, mas… será que ele também por desconhecer suas técnicas não tem a mesma sensação?! Cabe a nós refletirmos sobre uma simples questão, somente porque alguém seja mais forte, veloz, possua mais técnicas lapidadas e várias outras qualidades, significa que você não tem chance alguma? A resposta é não! Somente isto não basta, temos que ter em mente que possuir técnicas perfeitas não é a única coisa que lhe fará vencer um adversário, o foco que você deve ter é a “estratégia” e com ela você utilizará suas técnicas em sua vantagem, mas… e o que isso tem haver com o fudoshin?!

Bom é agora que entra a questão do fudoshin.

Bom, vamos imaginar a seguinte situação, você está prestes a lutar e você nunca viu esse adversário a sua frente, mas já ouviu falar que ele é muito hábil e com isso na cabeça você fica um pouco intimidado, caso pense assim é sinal de que você perdeu a luta, pois isso é uma abertura mental. Vamos para uma outra situação, você está lutando de repente você leva um golpe que realmente lhe machuca  e demonstra sinal de dor, o adversário vê que está com vantagem e nesse momento ele vai partir para cima com tudo pois viu uma brecha, agora vamos pensar uma outra situação na mesma luta, o adversário desfere um golpe com tudo que ele tem lhe acertando, e você realmente sente mas não demonstra nenhum sinal de dor, isso irá intimidá-lo, agora você é quem está com vantagem, são situações como essas que trabalha-se o Fudoshin.

Na cena do filme “Jogo da Morte” onde Bruce Lee enfrenta Abdul Jabbar, nota-se no começo quando Bruce vê seu adversário, ele fica em estado de choque por momentos breves, mas confiando em suas habilidades ele vai a luta e parte para cima de seu oponente, assim, vê-se que no decorrer da luta ele fica em desvantagem por somente ter em mente que seu adversário é um gigante e irá matá-lo, logo, mais adiante no decorrer da luta, Bruce consegue perceber seu distanciamento(maai) quebrando-o de Abdul assim gerando mais confiança em si mesmo, percebe-se que os dois ficam no mesmo patamar mental, e do meio para o fim da luta, o oposto ocorre, Abdul é quem fica intimidado com Bruce, agora eu repito a pergunta “somente porque alguém seja mais forte, veloz, possua mais técnicas lapidadas e várias outras qualidades, significa que você não tem chance alguma? “, Bruce usou o artifício de autoconfiança em si mesmo deixando sua mente em um estado impenetrável assim atingindo o Fudoshin.

O Zanshin se refere a um estado de constante e contínua atenção ou estado de alerta. O Zanshin se aplica a sua atenção ao mundo à sua volta. Você percebe as pessoas à sua volta, como elas se movem, como ficam de pé, o que há em seus olhos, porque você precisa estar preparado para interagir com elas. Você está presente neste momento. Uma grande parte do reigi, ou “métodos de respeito” no budo, particularmente as reverências (de pé e na posição sentada) e outras formas de etiqueta foram criadas com o zanshin em mente. Em um contexto marcial, imobilidade e continuidade se referem a um estado de alerta mental em que a mente não está fixada em coisa alguma. Como a mente é receptiva e atenta, mesmo que não fixada conscientemente em alguma coisa em particular, não existem pontos fracos mentais ou suki (“brechas”). Os conceitos espirituais japoneses podem ser um “quebra-cabeças” e normalmente são conectados como parte de vários conceitos. Por isso, explicarei mais detalhadamente.

Se eu tenho três objetos na minha frente e enfoco minha atenção em só um, minha concentração estará afastada dos outros dois. E assim, em relação aos outros dois objetos, eu criei um suki, ou uma ausência de foco. Se qualquer um destes objetos fosse um atacante, eu estaria completamente vulnerável. Mas se você disser, ok, tudo o que temos que fazer é focalizar todos eles, você estaria parcialmente certo. Mas, como com tudo o que é japonês, não é tão simples. O segredo escondido é que devemos focalizar todos eles sem focalizar nenhum deles. Às vezes isso é chamado de mushin, ou “não mente”. Este conceito, que sustenta o do fudoshin, pode ser difícil de ser compreendido por ocidentais. A “não mente” se refere a um foco que é mais intuitivo que consciente. Isso significa confiar em seus instintos mais do que se empenhar em um processo consciente de pensamento. Os ocidentais podem chamar isso de “estar na área”. Os japoneses podem chamar isso de “estar no momento presente”.

Confiar em si mesmo e em suas habilidades é o mais importante aqui.

No budo, criar este estado de confiança intuitiva e maturidade interior requer muitos anos de prática (keiko), em alguns casos a prática de exercícios de respiração meditativa (kokyu ho) e disciplina austera física/espiritual (shugyo).

Todos estes elementos, que são parte do budo, lentamente afastam a mente do diálogo mental interno e das censuras (de análise e justificação) e começam a permitir a mente que confie em seus sinais intuitivos ou em sua natureza superior. Em mushin, a mente deixa de ser facilmente perturbada ou reativa em excesso. Ela é fudo (“imóvel”) e não são criados suki (“brechas”) ou quebras do foco. Este estado é muito claro ao se observar um experiente budoka praticando um kata. Apesar de estar totalmente atento à forma, ele não opera a partir de um processo consciente de pensamento. O kata foi praticado milhares de vezes, e o praticante desenvolveu uma confiança natural em sua habilidade. De certa forma, não há nada para se pensar. Talvez seja um tanto como o slogan da Nike: “Just Do It” (“apenas faça”).

Em resumo, a mente, não estando presa a coisa nenhuma, é forte, concentrada e receptiva a todas as coisas. Certamente Fudoshin não existe somente para as artes marciais. Pelo contrário, esta confiança e calma intuitivas podem ser usadas antes e durante uma reunião importante, em uma entrevista, uma prova, ou em qualquer circunstância em se seja necessária calma e um foco intensificado. Com uma prática consistente e disciplinada, o fudoshin pode se tornar um estado mental natural, confortável e produtivo.